Silves é um daqueles lugares onde o ar carrega o aroma da flor de laranjeira e os ecos de um passado mourisco. Situada no interior da movimentada costa algarvia, esta pequena cidade exibe sua história com orgulho. Outrora a movimentada capital mourisca de al-Gharb al-Andalus, hoje é um lugar de grande aconchego

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Uma cidade de pedra vermelha

Ao se aproximar de Silves, você a vê emergir da paisagem pela primeira vez como uma brasa brilhando contra pomares de frutas cítricas verdes. Sua fortaleza domina o horizonte como uma vasta cidadela vermelha construída com o arenito vermelho local, o que a faz brilhar como fogo ao pôr do sol. O castelo de Silves é a fortificação mourisca mais bem preservada em Portugal. Enquanto você caminha pelas muralhas, a vista se abre sobre o vale do rio Arade, que oferece um panorama de laranjais, telhados de azulejos e colinas distantes

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Os mouros chamavam a cidade de Xelb. Durante seu governo, entre os séculos 8 e 12, foi um centro de aprendizado e ciência. Comerciantes de todo o mundo islâmico e de outros lugares passaram por seu porto no rio Arade, trazendo seda, especiarias e novas ideias. Dizia-se que Silves rivalizava com Lisboa e Córdoba por sua sofisticação. Os poetas de al-Andalus escreveram sobre sua beleza, falando de jardins perfumados com jasmim e palácios ornamentados construídos com mármore refrescante. Naquela época, o rio Arade era navegável, pois brilhava sob o glorioso sol algarvio

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Hoje, esse rio corre mais silencioso e não é mais navegável, mas o espírito de Silves ainda carrega uma certa grandeza. Caminhe por suas ruas de paralelepípedos e você poderá sentir isso nos arredores; um sussurro persistente de

glórias passadas.

Créditos: Unsplash; Autor: anthony-r;

Ruas cheias de contos

Silves é uma cidade melhor descoberta a pé. As ruas estreitas sobem abruptamente em direção ao castelo, passando por casas caiadas de branco com detalhes ocres e portas pintadas em todas as tonalidades do mar. A buganvília se cobre preguiçosamente sobre as paredes e o tilintar dos copos no terraço de um café se mistura com o tumulto geral da vida diária. Não há pressa aqui, não há impaciência

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A Catedral de S., construída no local de uma antiga mesquita, fica em pedra solene ao lado da fortaleza. Seu interior descolado é uma ode à austeridade gótica, mas lá fora, as crianças brincam na praça e um homem com um chapéu de palha vende laranjas frescas em um carrinho de madeira. Esses momentos fugazes personificam os ritmos simples da vida diária e se somam para

tornar Silves especial.

Descendo a colina, junto às antigas muralhas da cidade, fica o Museu Municipal de Arqueologia, onde as camadas da história da cidade são reveladas por meio de artefatos descobertos sob suas ruas. Relíquias romanas, cerâmicas mouriscas e moedas medievais são peças de uma história que se estende por milênios

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O passado e o presente

Embora Silves mostre sua história com orgulho, não é um museu. A cidade vive e respira. Os mercados de agricultores enchem a cidade baixa com conversas e cores. Aos sábados, os moradores chegam com cestas de figos, amêndoas e mel para vender. O cheiro de frango piri-piri assado

sopra nas barracas à beira da estrada.

O ritmo de Silves é distintamente português. É sem pressa, generoso e vinculado à terra. A paisagem circundante está entre as mais férteis do Algarve, produzindo as laranjas que tornaram a região tão famosa. Na primavera, os bosques são um mar de flores e o ar está cheio de perfume. No outono, a colheita começa e as encostas ecoam com a tagarelice e as risadas dos trabalhadores que coletam

as frutas manualmente.

Além dos pomares, os vinhedos se estendem pelo terreno ondulado, produzindo vinhos algarvios cada vez mais respeitados. A vizinha Quinta do France, por exemplo, oferece degustações de tintos fortes e rosés crocantes que capturam a essência do terroir da região.

O castelo e o rio

No coração de Silves está a interação entre o castelo acima e o rio Arade abaixo. O rio Arade já foi navegável até o Atlântico, fornecendo uma artéria que ligava Silves ao mundo exterior. Na época dos mouros, navios carregados com mercadorias da África e do Oriente atracavam aqui, transformando esta cidade do interior em um porto cosmopolita. Hoje, pequenos barcos flutuam suavemente em sua superfície, com seus reflexos brilhando sob a antiga ponte romana

caiada de branco.


Sente-se na margem do rio com uma taça de vinho local ao pôr do sol e você verá o castelo ficar vermelho na penumbra. As paredes vermelhas parecem absorver o brilho, como se lembrassem os fogos de batalhas e celebrações antigas. É um dos pontos turísticos mais emocionantes do Algarve; uma harmonia de história

, memória e renovação.

O festival dos mouros e dos cristãos

Todo mês de agosto, Silves volta firmemente ao seu passado durante a Feira Medieval, uma celebração de uma semana que transforma a cidade em uma cena de mil anos atrás. Cavaleiros a cavalo desfilam pelas ruas, falcoeiros exibem seus pássaros e mercadores em mantos vendem especiarias, metais e tecidos. A atmosfera se enche de música e do cheiro de cordeiro assado enquanto lanternas piscam contra as paredes de pedra. É ao mesmo tempo teatral e sincero, um lembrete tangível de que Silves já foi palco de impérios, uma encruzilhada de fés

e culturas.

Além das paredes

A beleza de Silves não se limita às suas paredes. Além da cidade, há uma paisagem que parece intocada pela correria do turismo moderno. Dirija em direção a São Bartolomeu de Messines e você logo entrará em um mundo de colinas, florestas de sobreiros e aldeias tranquilas. Na primavera, o campo explode em cores com lavanda, papoulas e tomilho selvagem cobrindo os campos. Ciclistas e caminhantes seguem trilhas ao longo do rio ou até a Serra de Monchique, cujos picos

se elevam à distância.

As famosas praias do Algarve estão a apenas meia hora de distância, mas Silves parece um mundo à parte. Aqui, você troca o surf e a agitação por algo muito mais profundo. Uma conexão com a alma da região, com o ritmo duradouro de sua terra e de seu povo

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Uma cidade de calor e luz

Ao cair da noite, Silves amolece. As ruas ficam quietas à medida que o calor do dia diminui. Os moradores se reúnem em pequenas tabernas onde comida grelhada é servida com pão e vinho rústicos. O ar está cheio de conversas e, ocasionalmente, você pode até ouvir o som melancólico do

Fado.

A luz permanece por muito tempo nas muralhas vermelhas do castelo e depois desaparece suavemente, deixando a cidade envolta em um tom violeta. É neste crepúsculo prolongado que Silves revela seu caráter mais verdadeiro. Não é antigo nem moderno, mas atemporal. Um lugar onde o peso da história é equilibrado pelo ritmo da vida diária.

Silves não é o Algarve dos cartões postais ou dos resorts de praia. É algo totalmente mais raro. É um lugar de substância e quietude onde o passado não foi apagado, mas absorvido. Andar pelas ruas de Silves é caminhar por séculos. Permanecer lá é começar a entender algo essencial sobre o próprio Portugal.

E ao sair, olhando para o castelo vermelho brilhando suavemente contra o crepúsculo, você pode sentir, como muitos já fizeram antes, que Silves é mais do que apenas uma cidade. É realmente o coração antigo do Algarve.