A bordo da embarcação Santa Maria Manuela, dezenas de pesquisadores ancorados na Baía de Armação de Pêra exploraram toda a área do parque, tanto na superfície quanto mergulhando, para observar e coletar amostras do fundo do mar, em uma iniciativa promovida pela Fundação Oceano Azul, pelo Oceanário de Lisboa e pelo Centro de Ciências Marinhas (CCMAR) — Universidade do Algarve.
Durante a campanha, foram identificadas aproximadamente 20 espécies — principalmente crustáceos e também gorgônias, corais que formam jardins subaquáticos e fornecem abrigo e alimento para outras espécies — que, embora não sejam novas para a ciência, são exclusivas dessa área específica, diz Jorge Gonçalves, do CCMAR, coordenador científico da expedição.
“Identificamos uma espécie relativamente grande [de gorgônia] que não havia sido registrada no parque e agora foi observada pela primeira vez”, explicou ele, acrescentando que a área do recife também contém algas calcárias que formam estruturas de carbonato de cálcio, “uma espécie de duna subaquática, um ecossistema único que abriga centenas de outras espécies”, atuando como sumidouros de carbono.
Ao contrário das gorgônias, que são animais, essas algas calcárias coralinas (de cor vermelha) que também existem na área do parque são plantas — elas fotossintetizam, removem dióxido de carbono da água e, indiretamente, da atmosfera — e juntas, formam um habitat prioritário para a conservação.
Mapeamento Durante seis dias, equipes de pesquisadores mapearam
habitats icônicos, como gorgônias, prados de ervas marinhas, jardins de corais e leitos de pântanos por meio de mergulho científico e do uso de várias plataformas tecnológicas para coletar imagens, incluindo drones, veículos operados remotamente (ROVs) e veículos subaquáticos com armadilhas para peixes.
De acordo com Diana Vieira, gerente de projetos da Fundação Oceano Azul, mais de 30 mergulhos foram realizados durante a campanha, totalizando 24 horas de imersão, e muitas horas de vídeo foram coletadas, que agora serão analisadas para identificar as espécies observadas no parque.
“Estamos coletando informações adicionais para servir como base para o desenvolvimento do programa especial e dos regulamentos de gestão [do parque].
Esses são os instrumentos que definirão as regras do Parque Marinho — o que será permitido, o que será condicionado ou o que será proibido — e estão sendo desenvolvidos pelo ICNF [Instituto de Conservação da Natureza e Florestas], em colaboração com o CCMAR e outras entidades”, disse.
Além de encontrar peixes de um certo tamanho, o que é um “bom sinal”, grandes corais também foram observados e uma pequena caverna escura foi descoberta, lar de espécies típicas do fundo do mar: “Destaco especialmente as gorgônias amarelas — 'Paramuricea grayi' — muito grandes e bonitas. Foi uma surpresa, mais estética do que cientificamente, mas ainda assim muito interessante”, concluiu.
Nesta área, 1.059 espécies marinhas já foram identificadas — 754 invertebrados, 152 peixes, 61 aves marinhas e 82 macroalgas — incluindo espécies de valor comercial, potencial biomédico e interesse turístico, algumas das quais são raras e ameaçadas de extinção.
A expedição contou com o apoio do ICNF, da Autoridade Marítima Nacional e dos municípios de Albufeira, Lagoa, Portimão e Silves.